O retorno do totalitarismo na era das fake news
Vivemos tempos pós-modernos, marcados pelas incertezas e pela fluidez. Nada é concreto. Paira a insegurança em relação ao futuro. Nesse contexto, observa-se uma ascensão dos discursos totalitários, mais precisamente de um retorno do fascismo em pleno século 21.
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Na era da Internet e do amplo e livre acesso à informação, esperava-se que a população estivesse mais bem informada e esclarecida. Que tivesse aprendido o suficiente com a História para não repetir erros do passado. Mas infelizmente não é o que acontece: a pluralização da informação acaba criando confusões e inseguranças, propiciando um campo fértil para a veiculação de fake news. Geralmente começa com a propagação de informações rasas e pobres de conteúdo que, de tão repetidas, alcançam o patamar de “verdades”.
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Como se sabe, os meios de comunicação exercem grande influência sobre a população, interferindo em eleições e decisões políticas. Foi o que o Hitler fez quando chegou ao poder na Alemanha, em 1933: por meio de propaganda política minuciosamente elaborada, o nazista convenceu a população alemã que judeus, comunistas e pessoas que não se encaixassem na “raça ariana” eram passíveis de serem perseguidos.
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A propaganda veiculada pelo governo de Hitler justifica, em partes, como os alemães foram manipulados e, assim, coniventes com tanta maldade praticada contra minorias étnicas à época. No entanto, quase um século depois, o que justifica a eleição de líderes autoritários atualmente, mais precisamente nas últimas décadas, em plena era da informação?
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Se nunca tivemos tanta liberdade, como afirma Bauman em O mal-estar da pós-modernidade (1998), por um lado, paira a insegurança e o medo, por outro. O mais grave de tudo isso é: o sujeito pós-moderno não sabe ao certo quem são seus mais perversos inimigos. Prato cheio para fake news e, consequentemente, para o retorno de líderes autoritários e simpatizantes com regimes nazi-fascistas.
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Polarizações
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Quando falamos em medo, podemos falar sobre o medo que a classe média no Brasil, por exemplo, vive constantemente, sentindo-se ameaçada pela violência urbana. Por sua vez, as classes desprivilegiadas também vivem sob constante medo, seja no ir e vir do cotidiano.
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Sobre a classe média, esta é dominante, beneficia-se da desigualdade existente no país e, muitas vezes, pouco se interessa em realmente se informar e até mesmo discutir as variáveis que envolvem a segurança pública. Busca resolver sua insegurança em relação à violência urbana se “encastelando” em condomínios fechados e até mesmo mudando de país.
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A não-discussão e a negação da possibilidade de um debate saudável em prol da democracia e da qualidade de vida só acirra a polarização política que vem marcando a sociedade brasileira em tempos tão incertos. Muito se fala, mas pouco se escuta. Há muitos monólogos e, infelizmente, poucos diálogos, enfraquecendo o real sentido de viver em sociedade.
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Necessidade de se acreditar
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Enfim, o sujeito pós-moderno sente-se perdido, inseguro e sem referências. Em quem realmente acreditar? É preciso pertencer, sentir-se seguro e ter um “líder”. Prato cheio para a ascensão do totalitarismo que estamos vendo. Em meio a enxurrada de informações que circulam diariamente por todos os meios, sobretudo pelos digitais, vence a pobreza de conteúdo, a repetição, o simplismo e o cinismo. Enfim, vencem as fake news. A justiça, os direitos humanos e a democracia, infelizmente, saem perdendo.
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Para se aprofundar mais no tema tratado neste blog post, leia o artigo “Angústia pós-moderna, extrema direita, fake news e consequências da necessidade de se acreditar”, de Gracielle Carrijo Vilela, sócia da Martini & Carrijo, publicado em um dos anais do II Congresso Latino Americano: direitos humanos, crimes de lesa humanidade, regimes de exceção e lawfare. Para acessá-lo, clique em https://www.otempododireito.